Desafios para uma agricultura resiliente: antecipação e adaptação às ameaças resultantes do clima

9 September, 2022

Artigo de Ana Romero, Gestora de Projetos de Consultoria da Incatema Consulting & Engineering

Em cada dia 9 de setembro, o Dia Mundial da Agricultura é celebrado em todo o mundo como um alerta para o papel vital que a agricultura desempenha na alimentação de uma população mundial em aumento constante e com recursos cada vez mais escassos.

A crise climática e os seus efeitos na agricultura, juntamente com o crescimento populacional, que é muito elevado nos países em desenvolvimento, sublinham a necessidade de uma agricultura resiliente que continue a produzir alimentos suficientes em quantidade e qualidade, ao mesmo tempo que se adapta a eventos climáticos cada vez mais frequentes (secas, tempestades tropicais, cheias, ciclones, etc.). Além disso, esta agricultura deve fazer uma utilização eficiente dos recursos naturais como a água e o solo.

Qualquer um de nós que trabalhe no setor agrícola nas suas diversas vertentes, sabe que a agricultura do futuro deve ser inovadora, sustentável e eficiente. E precisamos de começar o mais cedo possível; precisamos de agir hoje para podermos enfrentar as dificuldades que virão no futuro.

A agricultura resiliente anda de mãos dadas com a inovação que se concentra cada vez mais nas ferramentas de recolha e análise de dados que permitem antecipar riscos e ameaças relacionados com o clima. Neste sentido, as tecnologias de Big Data Analysis tornaram possível desenvolver modelos de previsão para compreender com precisão as alterações climáticas que temos de enfrentar. O desafio atual é trazer estas tecnologias para a produção agrícola. À medida que a informação sobre os processos agropecuários se torna disponível, os modelos de previsão serão capazes de antecipar a evolução dos sistemas agrícolas e mitigar potenciais efeitos negativos do clima. As novas tecnologias de gestão da informação e a robotização fizeram disparar a capacidade de aquisição de dados. O desafio é gerar conhecimentos úteis para os produtores, especialmente nas áreas mais sensíveis às alterações climáticas.

Felizmente, a tecnologia deixou de ser um património exclusivo dos países desenvolvidos, embora haja ainda um longo caminho a percorrer. Na Incatema, desenvolvemos um sistema de informação geográfica (SIG) para gerir a bacia do rio Cuvelai, uma bacia partilhada por Angola e Namíbia que sofre inundações devastadoras com regularidade. Este sistema fornece ferramentas para avaliar a vulnerabilidade da área a inundações, permitindo a localização de atividades produtivas e humanas em função dos riscos climáticos mais prejudiciais para cada uma delas. Além disso, é um sistema especializado, que incorpora conhecimentos locais e pode evoluir ao longo do tempo à medida que os operadores locais incorporam informação de monitorização em tempo real.

Tecnologia aplicada à gestão eficiente da água de irrigação

Um dos recursos mais necessários para a agricultura é a água para irrigação, que é um recurso escasso em muitos países. Uma gestão eficiente da água na agricultura tem de ser uma prioridade.

Por exemplo, a aplicação da tecnologia 4G à automatização da rega é uma solução que permite, através da ligação de sistemas de rega a equipamentos de teledeteção, programar a rega de acordo com as necessidades de água de cada setor das parcelas de cultivo, melhorando a eficiência da utilização da água e minimizando as perdas por infiltração. Outra tecnologia amiga do ambiente que também permite a implementação de sistemas de irrigação eficientes é a energia solar utilizada para o bombeamento de água. A utilização desta energia permite evitar a utilização de fontes de energia tradicionais, mais poluentes e menos acessíveis aos pequenos produtores dos países em desenvolvimento. Na Incatema temos realizado projetos deste tipo em países como o Malawi e São Tomé e Príncipe, promovendo a irrigação sustentável através da combinação da transferência de tecnologia com o desenvolvimento de capacidades locais através de formação, tanto para utilizadores como para gestores públicos.

Os desafios que enfrentamos são enormes, e como tal é urgente a promoção de uma agricultura sustentável e resiliente. Ainda há muito a fazer, especialmente em termos de investimento em inovação e desenvolvimento tecnológico. As organizações multilaterais (Banco Mundial, BID, CE, agências da ONU, etc.) bem como as agências de cooperação bilateral como a AECID, são decisivas, porque na qualidade de principais agentes financiadores, estão a introduzir os princípios da sustentabilidade e otimização da utilização dos recursos naturais como requisito obrigatório nos seus programas de desenvolvimento, contribuindo para acelerar os processos de modernização.